segunda-feira, 12 de agosto de 2013

DESFABULÁRIO DA INFÂNCIA 3

OLHO AZUL OLHO AMARELO

– Pai, que livro é esse?
– É um livro de estudo do papai.
– Conta ele pra mim.
– Mas não é uma história, filha. É um livro de estudo.
– É uma história, pai. Vê o desenho? Tem um olho azul e outro amarelo. É um menino.
– Se você quiser, a gente pode inventar.
– Então inventa!
– Está bem. Era uma vez um menino que tinha um olho de cada cor. O direito era azul e o esquerdo era amarelo. Tinha gente que gostava de olhar para o azul porque pensava que estava no céu.
– Mas o olho amarelo parece um gato.
– É. Por isso tinha gente que também gostava de olhar pra ele. E pensavam que estava no sol.
– Só que a amiguinha dele gostava dos dois olhos.
– E quem era essa amiguinha?
– Era Júlia.
– Era você?
– Não pai, era outra Júlia. Olha pra ela, o olho dela não tem cor, e o meu é preto.
– A tá. Por isso que ela gosta de olhar o olho do menino, não é?
– É. Todo dia ela olha pro olho do menino. Olha no azul, olha no amarelo.
– E o que ela vê?
– O céu e o sol. Aí ela voa bem muito dentro do olho dele.
– Como pode isso, filha? Voar dentro do olho!
– É, mas é de brincadeirinha. Ela voa lá dentro e ele gosta muito porque ele vê ela voando, voando, feito um passarinho.
– Essa história está ficando um pouco maluca. E ele não voa?
– Voa sim, ele é um anjo.
– Mas um anjo serve pra ajudar. Ele ajuda a quem?
– Ajuda a menina a voar, porque ela não tem olho.
– Nossa, que lindo, filha! E como acaba essa história?
– Acaba quando ela chegar bem longe. Ela vai encontrar um olho pra ela. Aí ela pode ver tudo.


Edilberto C. e Júlia Santiago

DESFABULÁRIO DA INFÂNCIA 2

A ÁRVORE NÃO ANDA

– Pai conta a história da árvore!
– Que árvore, filha?
– A árvore que fala.
– Essa eu não conheço. Conta pra mim.
– Eu conto. Era uma vez uma árvore...
– E aí?
– Vinha uma menina andando, andando, andando e... conta o resto.
– você quer que eu invente. Então tá... ela veio andando e viu no meio da floresta uma árvore imensa que subia até o céu. Ela ficou tão encantada que falou: “que árvore linda!” E o que aconteceu depois?
– A árvore disse: “obrigada”.
– Pois então. A menina ficou tão contente e espantada que disse: “você fala, nooooossaaaa! Deve ser muito bom uma árvore que fala”.
– É, mas ela não anda.
 – Exato. Foi isso que a árvore falou: “seria melhor se eu pudesse andar também!” Aí...
– A árvore deu um grito “aaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhh!”
– por quê?
– Porque ela viu o lobo, papai!
– Aff, toda história tem lobo?
– Tem. O lobo é do mal. Ele veio e a menina correu. Salva a menina papai!
– Está bem. Ela correu, corre que corre e o lobo atrás. Aí tchbuuum. A menina caiu no buraco. O lobo não viu e passou direto.
– E pra onde ele foi?
– Foi pra casa, trocar de roupa porque ele ficou muito suado de tanto correr.
– Aí a menina no buraco gritou: “socorro, alguém me ajude”.
– E ai?
– A árvore foi lá e tirou ela.
– Mas ela não anda, lembra?
– Então ela balançou o braço.
– O braço é o galho dela?
– É. Aí ela balançou bem muito. Até que a menina deu um pulo e agarrou no galho e saiu do buraco.
– E depois?
– Depois eu fiz uma mágica, assim: “mágica de feiticeira, faça a árvore andar!”
– E ela andou?
– Andou. E aí as duas foram embora. E acabou.

Edilberto C. e Júlia Santiago.

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