Toda
biografia almeja ser uma casa de vidro. Exibir utopicamente o autor em pura
transparência – tropeçando sempre na opacidade. A do corpo e a da própria
linguagem. Nascido potiguar, à luz da estrela d’alva, em 29 de abril de 1969,
trago comigo a marca da ambigüidade. De pais morenos, de pele negra, tenho – por
herança de avós – a pele branca, sardenta e os cabelos ruivos. Especialmente
minha infância foi dividida entre a capital ensolarada e lambida pelo mar (onde
nasci) e o sertão áspero e ardente (terra de meu pai). Mais estudante que
estudioso tive a virtude secreta da curiosidade. Com ela, descobri mais do que
aprendi. Quando não descobria, inventava estórias. Arte que aprendi, aos
pedaços, de pais, tios e avós. Contadores de casos e acasos – todos a “mais
pura verdade” mas sempre “absurdos”. Entre a escola pública e as Quintas
(bairro de periferia) cresci. A UFRN deu-me as Letras; e a PUC de São Paulo, a Semiótica.
A primeira iniciou-me na arte de ler; a segunda na arte de ver. A somatória de
ambas resulta na criação – que é a arte de pensar. A matéria da criação vem do
que pulsa, como é o caso dos dez anos vividos em São Paulo. Atualmente, Voltando a Natal, lecionei no Colégio Nossa Senhora das Neves a disciplina de
literatura infantil e juvenil, no ensino fundamental. Experiência que me
permitiu desenvolver a outra face da criação: a arte de contar estórias. Posso,
por isso, dizer-me profissionalmente um “estoriador”. No mais sou um amante das
palavras e dos nomes, o que me aproxima da poesia. Vejo na sorte de todos os
nomes a poesia inscrita. A título de exemplo posso citar o nome do meu pai, Francisco
Albino, cuja menção ao branco contrasta com o fato de ser negro. Minha mãe,
Margarida Celenísia, e minhas avós Cosma Generosa e Maria Dionísia são
verdadeiros poemas concretizados na matiz do corpo. Minha obra é toda inédita e
não tenho pudores de proclamar essa virgindade.
Edilberto Cleutom dos Santos
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