terça-feira, 19 de novembro de 2013

DESFABULÁRIO DA INFÂNCIA 5

A MENINA QUE VIROU ESTRELA

– Pai, conta uma história.
– Qual?
– A da árvore.
– Essa eu já contei demais.
– Conta outra então.
– Eu gosto de contar quando você me ajuda. Você começa e eu continuo.
– Então, tá. Era uma vez uma menina...
– ...que vivia muito sozinha.
– Onde estava a mãe dela?
– Tinha ido embora pra muito longe.
– Mas ela não ia voltar mais não?
– Acho que não. Ela estava num lugar muito, muito longe.
– E o pai dela?
– Ele vivia com ela, mas trabalhava demais. Saía de casa muito cedo e chegava muito tarde. Quando ele saía, ela ainda estava dormindo. E quando ele chegava ela tinha ido dormir.
– Mas ele não brincava com ela?
– Brincava pouco. Nos sábados, quando ele tinha folga do trabalho.
– Ela chorava?
– Só às vezes. Mas ficava em casa muito triste. Aí um dia o pai dela disse pra ela ir pra uma festa. Pra se divertir um pouco, e ela foi.
– Ela dançou?
– Dançou muito, muito, muito. E ficou bem contente. Mas quando ela voltava pra casa, ela se perdeu e entrou pela floresta.
– Ela vai ver o lobo?
– Não. Dessa vez o lobo tinha ido pra casa da tia dele. Mas ela continuou andando e não sabia o caminho de volta. Andou tanto que ficou cansada. Sentou debaixo de uma árvore e acabou dormindo.
– Aí o lobo chegou?
– Você só pensa no lobo! Não. Ele foi pra casa da tia dele e acabou dormindo porque estava muito tarde. Mas a menina ficou lá dormindo. De repente ficou muito escuro e apareceu a lua e as estrelas.
– A lua é uma estrela?
– Não. A lua é um satélite. 
– Ela parece a minha unha.
– É só na lua minguante.
– Mas conta a história, pai.
– Tá certo. É você quem fica mudando o assunto. A menina dormiu e começou a acontecer uma coisa muito estranha. Começou a juntar vaga-lume em cima dela. Você sabe o que é um vaga-lume?
– É um mosquito.
– É. Só que é um mosquito que acende uma luzinha. E eles começaram a pousar em cima da menina, um dois, três, dez, mil. Até que ela ficou toda coberta de vaga-lume e toda acesa, brilhando, brilhando. Aí os vaga-lumes começaram a voar e foram levantando ela, que voou junto toda acesa. Eles subiram até o céu e lá ela virou uma estrela. Junto com a sua mãe.
– A mãe estava no céu?
– Era. Mas elas se juntaram lá.
– Essa história é muito triste.
– Você não gostou?

– Gostei. Eu não gostava de história triste quando era bebê, mas eu já cresci. Olha... eu não estou nem chorando.

Edilberto C. e Júlia Santiago.

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