terça-feira, 19 de novembro de 2013

DESFABULÁRIO DA INFÂNCIA 9

QUASE UMA FÁBULA

– Pai, a tartaruga é um pato?
– Você acha que é?
– Não!
– Então por que pergunta?
– Porque a tartaruga nada no mar.
– E o pato nada no lago.
– Mas a tartaruga pode querer nadar no lago.
– Sim, mas nem por isso é um pato.
– Mas eu acho que ela queria.
– Ela quem?
– A tartaruga, pai! Ela queria ser um pato. Por quê?
– E eu é que sei? Nem sei do que você está falando,filha!
– Você viu no desenho. Ela olhando pro pato. Conta pra mim.
– Lá vem você com essas histórias... deixa ver se eu sei: era uma vez uma tartaruga...
– Não é assim, pai!
– E como é?
– Era uma vez a tartaruga...
– Pronto! Você falou a mesma coisa!
– Mas você não fez a voz grossa. 
– Posso continuar?
– Pode.
– Era uma vez uma tartaruga que todos os dias via o pato nadando no lago e morria de inveja.
– Inveja é feio.
– Mas é uma inveja branca. Sua mãe diz que inveja branca não faz mal.
– Então tá! Conta.
– Morria de inveja porque achava o jeito do pato nadar muito bonito. Ele ficava de cabeça pra cima, o peito pra frente e parecia que flutuava na água.
– E como a tartaruga nada?
– Ela mergulha no fundo e joga as pernas pra frente e pra trás.
– É feio?
– Eu não acho, mas a tartaruga achava. E aí ela olhava, olhava, olhava, e ficava pensando “ah, como seria bonito se eu fosse um pato”. Todo dia era isso.
– Mas um dia ela fez um pedido, não foi?
– Um pedido a quem?
– Um pedido ao espelho mágico pai. Ele fala.
– E pediu o quê?
– Pediu pra virar um pato. E virou.
– Virou, mas não saiu do jeito que ele pediu. A cabeça dele virou pato, com bico e tudo. De dentro do casco saíram duas asas de pato. Mas continuou com aquela armadura, feito uma casca por cima das costas.
– Assim ela não vai conseguir nadar, vai?
– Acho que ficou um pouco difícil. Porque ela nem era pato nem tartaruga. De cada um ficou faltando um pedaço. O pior é que os outros bichos acharam aquilo muito engraçado e começaram a chamá-la de pataruga.
– Pataruga? Ela gostou?
– Acho que não. Mas teve que se acostumar, porque ela fez o pedido e o espelho foi embora.
– Quando ficar de noite, eu vou acender uma lanterna e procurar o espelho pra ela.
– Tá certo! Se você achar me avisa que eu chamo a tartaruga.
– Aviso. Mas conta o resto.
– Só posso contar agora quando você encontrar o espelho. E ela não é mais tartaruga, é pataruga.
– Tá certo, pai.

Edilberto C. e Júlia Santiago.

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